Perene

Thursday, December 29, 2005

Mais Forte Que A Razão

A festa estava linda. A decoração feita sob tema dos dinossauros coube muito bem naquele sítio generosamente arborizado. Havia muitos amigos da velha guarda e outros tantos de relacionamentos recentes.
Os pais da criança aniversariante tiveram bom gosto e dispuseram de uma boa soma de nossa moeda para ter aquele resultado.
Eu estava feliz com meu marido Gelson e o convidado da festa, meu filho Betinho. Deixei Gel, como todos chamam meu marido, com os amigos, porquanto Betinho a muito já havia desaparecido entre dezenas de moleques de cinco a doze anos que predominavam naquela festa.
Procurei o sanitário e fui informada pelo garçom que deveria usar as instalações da piscina do outro lado da bela e grande casa que abrigava os sitiantes. Na saída do toillet feminino, uma figura me gelou os pés e fez meu coração disparar.
Era Wellington, que seguia em direção ao vestiário masculino e parou perante mim. Estava mais bonito, mais forte, o que indicava que continuava malhando aquele belo corpo.
Nós nos conhecemos um pouco mais de seis anos, no mesmo ano em que conheci Gel. Eu e meu marido estávamos em fase de paquera quando surgiu Wellington, que passou também a me cortejar. Aquele acontecimento me deixava orgulhosa, pois era muito bom ter dois pretendentes fazendo a corte.
O Gel, com aquele jeito educado, intelectual e cavalheiro de ser, além de simpático e elegante.
O Wel, como passei a chamá-lo, tinha aquela figura máscula, atlética, bonita e despertava fantasia, do jeitinho que a maioria das garotas gosta.
Os encontros com Gel eram sempre no cinema onde ele me tocava e me beijava com mais ousadia. Ele queria sempre mais, mas obedecia aos limites por mim impostos.
Os encontros com Wel eram em parques poucos freqüentados, onde ele gostava de me beijar de pé junto às árvores, usando de sua força física para impor suas carícias que não conheciam limites. Eu gostava muito daquilo mas não podia ir mais adiante.
Certa vez, em uma festa, nós nos encontramos por acaso. Eles se conheciam e não se gostavam por minha causa; a conversa entre nós estava áspera e eu tentei separá-los porque senti que era exatamente aquilo que Wel queria; ele me jogou ao chão e em seguida agrediu violentamente Gel sem dá-lhe chance de defesa; não atendia meus apelos nem os de ninguém e continuava a bater forte no Gel até seu desfalecimento.
A partir daquele momento passei a odiar Wel e evitá-lo, até meu casamento. Agora ele estava ali de pé em minha frente e me dirigiu a palavra:
“Como é bom te ver novamente, Telma. Você ficou mais bonita com o passar dos anos...” “Posso pegar suas mãos?...” indagou. “Não... Seu cafajeste, canalha, ignorante, perver...” Fui interrompida bruscamente, como era de seu feitio, com um longo beijo. Só após um minuto tentei reação. Ele segurava minhas mãos para trás e me apertava contra seu corpo tentador e eu me contorcia provocando ainda mais seus desejos escusos.
“Estou hospedado aqui no sítio. Meu quarto é o último à direita no corredor. Te espero lá...” Ele me soltou. “Seu cretino...” gritei e saí correndo. Encontrei Gel bebendo com nossos amigos. Fiquei em sua companhia por meia hora, mas minha cabeça continuava no último ato. “Pôxa, até me esqueci. Encontrei algumas amigas do ginásio conversando dentro da casa. Vou lá colocar as fofocas em dia...” disse a Gel e o deixei rindo.
Entrei na casa com o coração na boca. Algumas pessoas ali conversavam e eu fui entrando como se conhecesse o ambiente. O corredor se apresentou e eu o penetrei pé ante pé, com medo de chegar à última porta, mas o desejo era maior e a porta surgiu em minha frente. Abri e entrei. Próximo à janela tinha uma linda e grande cama. Em cima dela estava Wel apenas de sunga.
“Eu sabia que você viria...” disse ele levantando-se. “Eu vim aqui pra, te dizer umas verdades, seu cretino...” falei. “Vai tirar a roupa ou quer que eu tire...?” perguntou. Dei-lhe uma bofetada no rosto. Ele jogou-me na cama e com estupidez, sua melhor característica, me tirou toda a roupa. Daí em diante soltou-se de dentro daquele homem o animal que ele, já a muito, anunciava guardar e durante hora e meia saciou-se do meu corpo, sem dó nem piedade e sequer quis tomar conhecimento dos meus sentimentos. Dos meus desejos ele sabia, pois meu corpo usado e explorado falou alto e minhas palavras trêmulas e indecifráveis denunciavam a rendição desejada.
“Esteja aqui amanhã cedo porque pretendo lhe dar uma ‘surra’ durante todo o dia...” ordenou. “Você jamais me verá novamente, cafajeste...” bradei.
O excesso de cerveja e a roda animada dos amigos não permitiram que Gel percebesse minha ausência. “Querido, amanhã tenho que voltar. Uma das minhas amigas gostou do sítio e resolveu promover aqui seu ‘chá de panela’ e tenho que lhe dar um presente especial, pois não irei a seu casamento, porque será realizado fora do estado...” informei a Gel.
Odeio o Wel, mas o desejo que tenho por ele é Mais Forte Que A Razão.

6 Comments:

  • At 7:43 PM, Blogger brasil said…

    DESATINO®

    Ó razão acode-me, por pouco, em lucidez
    pois tal em mim é o desatino.
    Qual flama ardente em mim se fez
    que faz-me adolescer, tornar menino.

    Não me deixes de mim distante
    em sonho profundo, louca paixão.
    Resgata-me deste querer tão flamejante
    e dá-me, em pouco, moderação.

    Mas a duvida nunca me dês
    pois da vida é o que me apraz..
    Se desatino em mim é o que se fez,
    em desatino permaneço incapaz..

    DAVID®

     
  • At 8:02 PM, Blogger brasil said…

    David veio a esse cantinho,
    com maestria e lucidez,
    explicar bem direitinho,
    que o desatino da paixão,
    tin-tin por tintin de uma só vez
    é Mais Forte Que a Razão!

     
  • At 8:29 PM, Blogger brasil said…

    VEM AMOR

    Vem amor que a hora é nossa,
    agora só nossos corações.
    Não há alguém que possa
    perder-nos em outras atenções.

    Vem amor cruzar todas as fronteiras
    e entregar-nos a todos os ardores.
    As paixões, inda que passageiras,
    são as fontes dos grandes amores.

    Vem amor que te quero a delirar,
    quero ver-te subir e descer,
    quero sentir-te e sublimar
    minha vida, meu prazer.

    DAVID®

     
  • At 1:59 PM, Anonymous Anonymous said…

    "Mais Forte Que a Razão", ou as mulheres gostam, realmente, de cafajestes? Nas obras de ficção, ( Primo Basílio, Madame de Bovary...) quantas mulheres arruinaram seus casamentos, por causa de canalhas, que diferentes de seus maridos lhes provocavam toda selvageria da fêmea possuída pelo macho.
    Por quê mulheres que têm maridos que lhes idolatram, deixam-se arrastar para cama dos cafajestes?

    Paulo Brasil, nesse conto revela um lado da alma feminina que parece ainda pouco explorado. "Nenhuma mulher sexualmente sã, gosta de ser tratada como uma santa pelo marido"

     
  • At 5:32 PM, Anonymous Anonymous said…

    Gosto de vc mulher®

    Gosto do jeito debochado,
    do teu esperar paciente,
    do teu encontro atrasado
    que acaba num beijo quente.

    Gosto do sorriso malicioso,
    desse olhar que me quer,
    do teu abraço caloroso
    desse teu jeito mulher.

    David®

     
  • At 9:51 PM, Blogger brasil said…

    Vera Campos Braga Perin (Via FaceBook) Paulo, amo as coisas que você escreve... você faz um "passeio" pelas palavras, nos trazendo a narrativa, clara, nítida e atraente... agente não consegue se desgarrar do texto... maravilha! Que sabe, sabe... conhece bem... Parabéns, e a sua benção meu paizão... novamente! Tenhamos todos um bom dia. bjs e meu carinho mais puro...

     

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